Até já!

Dia 24 de Fevereiro

14:17(pt) Vejo olhos chorosos. O que mais me custa é ver alguém, que sempre se resguarda num manto opaco aos sentimentos, derramar uma lágrima. Até já pai, até já mãe. (sinto me na obrigação de deixar a imagens gravada de um sorriso a correr-me nos lábios.

15:55(pt) Não há volta a dar, as minhas costas são projectadas contra o banco.

Uma ansiedade que se tornou em nervosismo volta agora outra vez em forma de ânsia. Uma ânsia mergulhada no barulho dos motores.

Eis a pista (vejo-a por uma pequena janela ao longe), eis a força, a velocidade, eis Lisboa vista do alto.

Até já Portugal, Beringel, Caldas da Rainha, família, amigos.

Neste momento não penso tanto no que me espera. Talvez porque ainda me preencher a memoria os rostos emocionados e abraços sentidos daqueles que me viram partir.

Por outro lado quero que isto seja uma experiência onde aproveite cada momento. Não quero pensar em mais nada.

(lá vêem os franceses deslavados, meio engravatados com carrinhos recheados de vinho tinto para me dar uma sandes. Abafado pela surdes da altitude tento decifrar palavras que se atropelam pelo meio de muitos “r”.)

Há, e é bom que se saiba que estou chateado! Queria estar à janela e fiquei mesmo no ultimo lugar.

Já conheci o rapaz que vai comigo mas teve de ir lá para o fundo.

Agora resta-me esperar 2h até chegar a Paris. A terra do “amour” e das baguetes!

Pois e o estúpido que não me deixou ir à janela vai agora de boca aberta a roncar. A sorte dele é que as moscas não andam de avião!

22:30(pt)

23:30(fr) Prestes a partir da famosa terra do grande amontoado de aço que não vi a não ser em postais, porta-chaves e pouco mais, já começo a ouvir aqui e ali o sotaque que me espera.

Mais uma vez perdi a janela. Desta vez para um casal de velhotes estáticos. Ela de cabeça baixa lê o livro, ele imóvel vê quem entra e eu no meio.

Ponto positivo (?): tinha uma mantinha toda catita à minha espera no banco… mas tenho calor!

Ok, preferia o tal velho pachorrento que encontrei quando me sentei. Agora cada movimento que faça não lhe passa despercebido. Estou a escrever e sei que ele está a olhar para mim.

Ah! Descobri que também tenho uma almofadinha! =D (não vai é caber na mochila como a manta)

Penso que sou o único acordado no avião, e o único que está a ver a miséria que está a dar na televisão: “Onde vivem os monstros?” Letras, isto era o tal filme que querias ver. O tal que dizias que era muito fofo. Pois eu tinha razão, para além do filme não prestar estava dobrado em brasileiro!

10:05(pt) Passadas 11 horas e 35 minutos dentro deste avião, já com o rabo mais que quadrado, com olhos mal dormidos e um aspecto colado, acabei de tomar o pequeno-

almoço. Parece que estamos a chegar e afinal os velhotes são um casalinho inglês muito simpático.

Um olhar sobre o continente americano revela-me uma grande quantidade de monte e serras, contornadas por rios e salpicadas de pequenas vilas: imagens majestosas.

10:45(pt) Cheguei Brasil! Terra de samba, terra de funk, terra de forrobodó! (e de estudo, pois que sim!)

13:45(pt)

10:45(br) Finalmente em grande plano vejo Rio cada vez mais pequeno e distante. Agora com as nuvens aos meus pés vou em direcção ao destino final.

Quando cheguei ao Rio estava a chover um pouco, mas o calor era insuportável. A roupa quente que levava também não ajudava.

Já começou: “Um suco?”, “tudo legal?”, “me estava enchendo o saco, pô!”

As notas são engraçadas. Têm animais e são todas do mesmo tamanho! Existem notas até 1 real. (já não se vêm muitas) O que significa que ando com 39 cêntimos em notas na carteira.

15:15(pt)

12:15(br) E pronto, Tiago Monte, beringeleiro desnaturado, aterra em Floripa!